Vandalismo a monumentos prejudica história e cultura de Salvador
Os monumentos espalhados pela capital baiana ajudam a contar a história de personalidades, momentos célebres e também são referências da nossa cultura. No entanto, algumas dessas peças vêm sofrendo com o vandalismo, crime que gera prejuízos materiais e imateriais na preservação da nossa história.
De acordo com a diretora de Patrimônio e Humanidades da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Milena Tavares, os monumentos representam os valores da sociedade e o vandalismo traz diversos prejuízos para a população. “Ele se constitui em ato de desrespeito à história, aos símbolos que representam a cidade e também ao artista-autor da obra. Acredito que expõe a ignorância de quem pratica, chegando a causar má impressão da população local”, explicou.
Dentre os casos que chamaram a atenção nos últimos anos estão o busto de Mãe Runhó, no Engenho Velho da Federação, em 2021. O restauro da peça custou R$36 mil aos cofres municipais. O busto de Juracy Magalhães, na Ribeira, foi vandalizado neste mesmo ano e precisou de um investimento superior a R$14 mil.
O Monumento à Cidade de Salvador, no Comércio, está em fase de reconstrução após incêndio ocorrido no fim de 2019, com investimento estimado em mais de R$1 milhão. Já o busto de Glauber Rocha, situado em avenida homônima, na Baixa de Quintas, também precisou de uma réplica para ser substituído, após furto. Nesta peça foram gastos R$60,8 mil.
No último domingo (4), um incêndio destruiu a escultura de Mãe Stella de Oxóssi, que fica na avenida que leva o nome da ialorixá. “O ato maculou a memória de uma pessoa muito amada, uma referência religiosa do candomblé. Avalio que será preciso em torno de três a quatro meses para recuperar o conjunto escultórico”, afirmou Milena.
Reconstrução – Para reconstruir um monumento é preciso um trabalho minucioso. É feita a contratação de um artista pela FGM com um tema ou, por vezes, uma ideia de como seria preciso executar o trabalho. Este contrato prevê o projeto, confecção e instalação da peça.
O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, contou que a Prefeitura já está em tratativa com os filhos de Tatti Moreno, artista que deu vida a homenagem a Mãe Stella, para que em breve Salvador tenha o monumento de volta. “Eles têm o molde original da obra, portanto estamos aguardando uma proposta para fazer a réplica do monumento. Ou seja, Mãe Stella vai retornar ao lugar de onde nunca deveria ter saído e mais uma vez vamos poder homenagear essa grande ialorixá”, enfatizou.
Filho de Tatti Moreno, Gustavo Moreno lamentou o incêndio da obra. “Não podemos mais tolerar ataques como esse. O Axé Apô Afonjá e a sua ancestral, Mãe Stella, sempre defenderam a liberdade religiosa. Mesmo ainda muito abalados com os fatos, eu e meu irmão André assumiremos a responsabilidade de refazer fielmente a escultura criada e exultada pelo nosso pai, materializando em memória a imagem da nossa ialorixá. E assim faremos, com o intuito de preservar os valores culturais e sociais da nossa cidade”, finalizou.
Educação patrimonial – A Prefeitura mantém o projeto #Reconectar que usa a tecnologia como recurso para aproximar a história dos cidadãos baianos e de turistas. Através do programa são instalados códigos QR Code nos monumentos, possibilitando acesso à ficha técnica dos mesmos em três idiomas.
A ideia do #Reconectar é ampliar o conhecimento dos soteropolitanos das obras estimulando a apropriação afetiva e evitando atos de vandalismo. De acordo com a FGM atualmente está sendo trabalhada uma plataforma digital georreferenciada que irá permitir o acesso, que qualquer lugar do mundo, à imagem e dados de cada monumento histórico de Salvador.
Crime – De acordo com o Artigo 163 do Código Penal, o ato de vandalismo é crime (destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia). A pena é de detenção de um a seis meses, ou multa.
O cidadão pode colaborar no combate a este tipo de crime, realizando a denúncia através do Fala Salvador, no telefone 156, site www.falasalvador.ba.gov.br, aplicativo Fala Salvador Cidadão, disponível no Google Play e App Store ou WhatsApp da Guarda Civil Municipal (GCM), no telefone (71) 99623-4955 – neste caso, os cidadãos podem enviar mensagem escrita e ou áudios de até 30 segundos, acompanhadas de vídeos e/ou fotos. O número não aceita ligações.