Tainara Ferreira ressalta impacto de letramento racial em Ananda, cantora alvo de racismo
No início desta semana um caso ganhou repercussão nas páginas de fofoca e policiais, após a divulgação de um áudio da influencer Ana Paula Minerato proferindo ofensas racistas contra a cantora Ananda. O ato cometido recolocou em pauta a necessidade de pôr em prática a legislação contra este tipo de crime, que ainda é muito branda e deixa vítimas à mercê da impunidade.
Sobre isso, a consultora de relações étnicos-raciais e gênero, Tainara Ferreira, relatou que acompanha de perto todo o desdobramento da situação, pois a vítima é a sua aluna de letramento racial, antes mesmo de tudo acontecer. Segundo Tainara, este embasamento sobre o sistema racista, suas práticas e reflexos, abordada em sua formação, deram a Ananda o conhecimento primordial de entender o que se passava, no entanto, ressaltou que isso não muda o grau de dor que causa após ser alvo de racismo escancarado.
"Ela é minha aluna há um tempo e sempre debato com ela sobre as vertentes deste racismo latente no país, assim como todos os meus alunos. Agora, isso é ainda mais significativo. Conversamos de forma mais dedicada, para entender esse abalo psicológico que ela sofreu. Não há como não ser atravessada por esse preconceito após ser vítima, mesmo tendo letramento, é um sofrimento que não muda, é diferente da teoria", pontuou.
Em último pronunciamento nas redes sociais, Ananda – que integra o grupo Melanina Carioca – evidenciou o que Tainara trouxe. Em resposta a Ana Paula, ela afirmou que "com certeza, não afetou só a mim. Eu fui a pessoa para quem foram proferidas essas palavras, mas ela ‘cutucou’ um negócio muito maior. [...] Não é mais sobre mim, foquem no que é realmente importante, que é falar sobre isso”.
Além disso, a artista aproveitou para agradecer pela dedicação da consultora durante este processo e afirmou que o conhecimento é necessário para angariar embasamento e força contra todo este sistema.
“Tainara aparece no meu caminho como um anjo, sou fã dela. Sendo mais que aluna, pois além de me ensinar eu posso contar com uma parceira nesse momento tão delicado, uma pessoa pronta pra falar sobre isso, prestar os esclarecimentos devidos, sabe? O trabalho dela é muito necessário, a gente precisa muito de informação acerca disso”, ressaltou Ananda.
Próximos passos
A especialista ainda ressaltou que é necessário haver esta mobilização em prol das mulheres negras, já que infelizmente até então a dedicação ocorre, em grande parte, entre brancas. "Essa consciência de raça e de gênero que Ananda adquiriu me deixa muito feliz, porque essa resposta contemplou a todos nós que estão nessa luta. É preciso ampliar a sororidade, pois atualmente ela abarca apenas o grupo em que a autora está inserida".
A cantora vítima de racismo já prestou uma queixa-crime contra Ana Paula Minerato e disse que prosseguirá com o processo até as últimas instâncias, tendo o apoio de Tainara Ferreira, que ainda destacou o trabalho prioritários do movimento negro em prol do cumprimento da lei existente.
"A gente precisa fazer valer a pena, para que tenhamos mais um caso de racismo com punição, não com linchamento em rede social, porque isso não resolve e todo mundo esquece. Isso deve servir como exemplo para que mais racistas paguem os seus crimes na justiça", concluiu a consultora.