Patrimônio é… abre atividades do ano de 2024 discutindo passado, presente e futuro do samba-reggae
Reportagem: Luiz Pedro Passos
Foto: Carla Lucena
Há 40 anos, nas ruas históricas e coloridas do Pelourinho, nasceu o samba-reggae. Genuinamente negro, ele mistura elementos do soul, do funk e de outras vertentes da cultura latinoamericana, sintetizando a engenhosidade do baiano. Uma característica internacionalmente reconhecida, reverberada e aplaudida, também, por conta da potência dos tambores que dão vida ao ritmo. Essa força do samba-reggae foi discutida na primeira roda de conversa da 8ª edição do Patrimônio é…, organizada pela Fundação Gregório de Mattos.
Com o tema: samba-reggae: do Pelourinho para o mundo, o evento aconteceu na Casa do Olodum e reuniu artistas, jornalistas, entusiastas, público em geral, além das crianças e jovens da Escola de Percussão do Olodum, que tem a missão de conservar, preservar e perpetuar o samba-reggae. A mediação da roda ficou a cargo da jornalista Val Benevides. Os convidados para a discussão foram os multiartistas Tonho Matéria e Raisson Lima, e a jornalista, pesquisadora e produtora cultural, a artista Viviam Caroline. O presidente do Olodum, Marcelo Gentil reverenciou a iniciativa, pontuando a relevância dela para a preservação e valorização da memória.
Na abertura dos trabalhos, o presidente da Fundação Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, ressaltou a importância do projeto Patrimônio é… como instrumento que ajuda a pensar a preservação dos patrimônios materiais e imateriais de Salvador, explicando que este não é um tema que se assenta no passado. “É, na verdade, algo contemporâneo, vivo, e que colabora para a construção da identidade da cidade”, afirma.
Durante o debate, o samba-reggae foi conceituado, classificado e, dada a sua importância, localizado enquanto criação e produção do baiano, mas que, pelo seu consumo, extrapola os limites geográficos do próprio país ao ganhar o mundo. “O samba-reggae divulga a Bahia para o planeta. Essa Bahia preta que recebe protagonismo nesse ritmo”, enfatiza a jornalista Val Benevides.
No entanto, essa discussão sobre limites foi para além da geografia, na roda de conversa, e se aprofundou pelos corpos, onde o samba-reggae também se circunscreve. Primeiro, ao nascer, o ritmo muda o modo de tocar, mas também de escrever as canções e, por extensão, transforma o jeito de se dançar, como recorda Viviam Caroline. É esse ritmo que sintetiza o homem negro, como defende Tonho Matéria.
Mas, de igual modo, torna-se um recurso poderoso de ressignificação do espaço ocupado pela mulher negra na música baiana. Isso porque o criador do samba-reggae, Neguinho do Samba, movido por um desejo de democratização da forma de se produzir o ritmo, criou a Banda Didá, exclusivamente formada por mulheres negras. Muitas delas, “geradas para não darem certo”, provoca Viviam Caroline, e finaliza destacando que essa história é, então, reescrita: “nós mostramos que somos capazes de arquitetar as realidades que queremos”.
A roda de conversa permitiu o encontro de gerações, nas discussões e na plateia. No palco, Tonho Matéria e o filho Raisson Lima. O primeiro, em diversos momentos, homenageou aqueles que, junto com ele, construíram a história do samba-reggae. Uma volta ao passado para sinalizar que o presente somente é o que é devido a tudo aquilo que veio antes. Mas esse diálogo entre pai e filho não se conjuga somente no passado ou no presente, ele se dá em estreita relação com o futuro, já que Raisson e tantos outros carregam a responsabilidade de não permitir que o sonho e a criação de Neguinho do Samba feneçam. “O samba-reggae transborda de uma forma fantástica em mim. É essa força que vai me fazer levar o samba-reggae a frente e não deixá-lo morrer”. Esse é o firme compromisso de Raisson Lima, em uma noite em que a cultura do povo preto, produzida nos últimos 40 anos, foi celebrada, mas sem perder de vista as próximas quatro décadas.
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