Escola municipal celebra empoderamento feminino negro em Cosme de Farias
Danças, músicas e roda de conversa marcaram a programação do Julho das Pretas, na Escola Municipal Saturnino Cabral, no bairro de Cosme de Farias. Alunos, mães e toda a comunidade participaram das atividades, realizadas ao ar livre no bairro, na última sexta-feira (29).
O evento, intitulado “Alto das Pretas”, teve como o objetivo, além de desenvolver um trabalho com os alunos da escola, enfatizar temáticas como o empoderamento feminino, a conscientização e valorização da mulher preta por toda a comunidade.
Quem participou da celebração assistiu a desfiles de roupas africanas, danças e apresentações de cantigas. Ainda durante a programação, alunos da escola puderam contar para toda a comunidade história de mulheres negras resistentes, a exemplo de Luisa Mahin, Maria Felipa, Tia Ciata e Tereza de Benguela.
Mobilização – “Nossa proposta foi de mostrar para a comunidade, principalmente as mulheres pretas, sobre suas valorizações. Além das crianças, essas mulheres precisam, também, se sentirem mais empoderadas, pois temos visto ao longo dos anos uma crescente falta de autoestima nelas que, em sua maioria, são pretas”, disse a diretoria da escola, Jaciara Araújo.
A diretora ainda explica como toda a programação das atividades é incluída no processo pedagógico da unidade escolar. “Para além da valorização e conhecimento das mulheres negras, trabalhamos, também, a alfabetização, o letramento, a leitura e a escrita, primeiramente com essas crianças. Essa é uma maneira, também, de mobilizar, incentivar e trabalhar com esse conhecimento curricular que é de função e obrigação escolar”.
Combate ao preconceito – A comunidade de Cosme de Farias foi mobilizada pelos alunos e corpo docente da escola para participar das atividades, como foi o caso de Jeane Santana, de 32 anos. A manicure se emocionou ao ver sua filha desfilar durante as atividades.
“Estou emocionada. Está sendo um evento bastante educativo. Nunca tive dificuldade em me empoderar ou me aceitar, mas a cada apresentação realizada por essas crianças sinto um incentivo ainda mais. Precisamos nos aceitar mais, aceitar nossos cabelos e ser quem somos”, disse.
A trancista Daniele Sacramento, de 39 anos, reforçou a importância de a comunidade participar de eventos com incentivo ao empoderamento da mulher negra. “Estou me sentindo representada por essas crianças e acredito que toda comunidade também esteja. Sofremos preconceitos desde que mundo é mundo, e o Julho das Pretas veio para enaltecer ainda mais a mulher negra. Diariamente reforço para minha filha que ela é linda, o cabelo dela é lindo, e que ela deve sempre ser ela mesma”, ressaltou.
A filha da trancista, Yasmin Sacramento, de 10 anos, desfilou no evento e disse ter se sentindo uma “rainha preta” ao adentrar a passarela. “Esse Julho das Pretas é muito importante para todos nós. Estou muito feliz por desfilar. Pelo fato de o meu cabelo ser crespo, antes eu pensava que ele era ruim e me sentia triste, mas, minha mãe sempre diz que sou linda, e eu fico bastante feliz quando ela fala isso”, disse a garotinha, aluna do 5º ano.