Sobe para 24 o número de casos de doença misteriosa
Prefeituras criticam divulgação de informações não comprovadas que atribuem doença a consumo de peixes
Subiu para 24 o número de pacientes com mialgia aguda (dor muscular) sem causa determinada, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS). Até esta terça-feira, 20, haviam sido registrados 22 casos.
Os dois novos pacientes são parentes de uma das pessoas que já têm o quadro clínico sendo investigado pela secretaria.
O órgão municipal capitaneia o processo investigatório dos casos, por meio do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cieves), instância vinculada à SMS.
As três pessoas da mesma família relataram aos médicos que apresentaram os sintomas no mesmo período. Em comum, todos os pacientes acusam dores fortes na região cervical, dores musculares intensas em braços, dorso, coxas e panturrilhas, além de urina turva.
Segundo a coordenadora do Cieves, Cristiane Cardozo, duas hipóteses estão sendo investigadas: a doença de Halff e a mialgia epidêmica. A primeira tem um quadro clínico parecido com o que apresentam os pacientes. Ela é transmitida por uma toxina presente em peixes e tem como sintoma a mialgia e a urina escura.
Já na mialgia epidêmica, as dores são causadas por uma infecção viral. No entanto, ainda não se tem resultados conclusivos.
Exames
Cristiane Cardozo informou que ainda se aguardam respostas de exames laboratoriais feitos a partir de amostras de fezes e de sangue das primeiras pessoas que apresentaram sintomas.
“Na próxima semana poderemos ter alguma resposta sobre os exames laboratoriais. Enquanto isso, estaremos recolhendo amostras de pacientes que representam esses novos casos, para serem analisados”, afirmou Cristiane.
Entre os 24 casos, todos de Salvador, há nove pessoas de três famílias diferentes, além de um casal e de 13 outras que apresentaram os sintomas e que não têm relação familiar entre si. Dos 22 primeiros casos, apenas 14 relataram ter feito o consumo de peixe, enquanto oito não se recordam se o fizeram ou não consumiram.
“Temos que juntar todas as peças para chegar a um denominador comum. O que vai ajudar são as investigações epidemiológicas, que incluem uma série de perguntas que identificam sintomas e hábitos”, disse a coordenadora do Cieves.
Segundo Cristiane, não há evidências claras sobre se existe relação entre a doença e o consumo de peixe ou frutos do mar. No entanto, a SMS já recebeu ligações de pessoas que moram em São Paulo e querem passar o verão no litoral norte da Bahia, mas têm dúvidas se isso é conveniente, o que demonstra que as notícias causam preocupação. “É preciso cuidado com as informações que estão sendo divulgadas”, destacou.
A TARDE procurou restaurantes de Salvador especializados em frutos do mar para saber se a divulgação dos casos reduziu o fluxo de clientes. “Alguns perguntam sobre isso, mas ninguém deixou de comer”, afirmou uma funcionária que não quis ser identificada.
Por meio de nota, a Secretaria de Cultura e Turismo de Mata de São João informou que a divulgação de notícias sem que haja um estudo que comprove o real motivo dessa doença pode prejudicar a região do litoral norte, mas que até o momento não houve impacto no turismo.
Já a prefeitura de Camaçari diz que a Secretaria de Turismo do município monitora as ocorrências – alguns dos pacientes estiveram em Guarajuba, no litoral norte, antes de apresentarem os sintomas –, mas que também não houve redução do fluxo de turistas.