Rotas perigosas: assaltos assustam motoristas Uber em Salvador
Sexta-feira de Carnaval. O motorista do aplicativo Uber Tiago Fernando Gusmão, 32 anos, transportava dois homens e uma mulher para a Santa Cruz. Os passageiros embarcaram em Ondina à 1h e disseram que ficariam em um dos edifícios da Rua Onze de Novembro, a principal. “Quando chegamos no destino, o carona encostou a ponta de uma faca na minha barriga e anunciou o assalto”, lembra Tiago. Ele teve os R$ 220 e o celular levados pelo trio, que conseguiu fugir a pé.
Por conta dessa e de outras ocorrências, alguns motoristas do Uber têm evitado aceitar solicitações para diversos pontos da cidade. Muitos temem circular na Santa Cruz, São Gonçalo e Chopm I (Cabula), Bairro da Paz, Cocisa (Paripe), Lobato, Congo (Periperi), além do Planeta dos Macacos e a Yolanda Pires (São Cristóvão), a comunidade de Santa Rosa de Lima, o Inferninho, e a Baixa Fria (Costa Azul), e do Bate Facho (Boca do Rio).
Tiago não foi a única vítima recente de violência contra motoristas do Uber na capital. Quatro dias depois de ele ser assaltado, o também motorista Ramiro Fernandes Teles da Rocha, 23, foi encontrado baleado dentro do carro que usava para trabalhar, no Cabula. Ele foi socorrido, mas chegou morto no Hospital Geral Roberto Santos.
O medo de entrar em alguns locais vem da experiência própria ou dos casos compartilhados em grupos no WhatsApp. “Os relatos são constantes. Nos comunicamos via WhatsApp e toda hora é um relato”, conta o motorista Flávio Braga, 35, que tem recusado corridas para São Cristóvão após relatos de assaltos a colegas no Planeta dos Macacos e na Yolanda Pires.
Pagamento em dinheiro
Ao CORREIO, motoristas que utilizam o app – que opera em Salvador desde abril de 2016 – disseram que os casos de violência contra eles aumentaram significativamente depois que o aplicativo passou a aceitar pagamento em dinheiro, a partir do segundo semestre do ano passado. “Antes, quando o pagamento era somente através do cartão de crédito, não tínhamos assaltos. Agora, viramos alvos fáceis dos bandidos”, declara Tiago.
Ainda segundo ele, quando foi assaltado, ele não desconfiou, inicialmente, que a corrida era uma cilada. “Eles vieram conversando, brincando um com o outro, descontraídos, falando sobre o Carnaval. Até então, não podia imaginar nada”, recorda.
Porém, em um determinado momento, Tiago ficou desconfiado. “O rapaz que estava no carona perguntou: ‘Tá fazendo muita corrida?’. Foi aí que cismei. Respondi que, como havia muito engarrafamento por causa de outros motoristas, taxistas e motoboys, fazia pouca corrida”, conta. Apesar da desconfiança, ele seguiu e acabou assaltado.
Pensei que ia morrer'
Os momentos vividos no dia 8 de janeiro deste ano dificilmente serão apagados da memória do motorista Diego Ferreira, 30. Ele disse ter vivido uma das piores experiências de sua vida. “Por instantes, pensei que iria morrer”, declara. Por volta das 17h40, ele tinha acabado de concluir uma corrida do Imbuí para o Costa Azul quando aceitou uma outra de imediato.
“Não é aconselhável ter um alto índice de recusa de corridas porque o serviço Uber pode, por um período, desvincular o motorista”, diz. Ao chegar nas imediações do Centro de Convenções, o passageiro, um rapaz que usava uma muleta, chegou a deixar Diego comovido. “Foi quando parei e, no lugar do rapaz, entraram três homens no carro. Fiquei tenso”, relata.